"A decisão da corte europeia foi recebida no Vaticano com choque e tristeza", disse o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi.
"É errado e uma miopia tentar excluí-lo (o crucifixo) do mundo da educação", disse ele, somando-se à indignação que a decisão desencadeou na Itália católica romana.
A sentença da corte, da qual a Itália informou que vai apelar, determina que crucifixos nas paredes das escolas, algo comum na vida italiana, poderiam perturbar crianças que não sejam cristãs.
A Itália vive um conturbado debate sobre como lidar com uma crescente população de imigrantes, na maioria muçulmanos, e a sentença da corte provavelmente se tornará um novo grito de guerra na política do governo de centro-direita para restringir a vinda de estrangeiros.
"Essa é uma decisão abominável", disse Rocco Buttiglione, ex-ministro da Cultura que ajudou a redigir encíclicas papais.
"Tem de ser rejeitada com firmeza. A Itália tem sua cultura, suas tradições e história. Aqueles que vêm viver entre nós têm de compreender e aceitar esta cultura e esta história", disse ele.
O porta-voz do Vaticano disse que era triste que o crucifixo possa ser considerado um símbolo de divisão e disse que a religião ofereceu uma contribuição vital à formação moral das pessoas.
Membros do governo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi se enfureceram, usando palavras como "vergonhoso", "ofensivo", "absurdo", "inaceitável" e "pagão".
GOLPE MORTAL
O ministro de Relações Exteriores, Franco Frattini, disse que a corte deu um "golpe mortal em uma Europa de valores e direitos", acrescentando que isso foi um mau precedente para outros países.
A ministra da Educação, Mariastella Gelmini, disse que os crucifixos nas paredes de dezenas de milhares de salas de aula "não significam adesão ao catolicismo", mas são um símbolo da herança da Itália.
Pelo menos uma garota muçulmana discordou da corte.
"Se o crucifixo está lá e eu sou muçulmana, vou continuar a respeitar a minha religião. Jesus na sala de aula não me incomoda", disse Zenat, uma menina de 14 anos de origem egípcia, em declaração à Reuters TV.
Duas leis italianas dos anos 1920, quando os fascistas estavam no poder, determinam que as escolas devem ter os crucifixos nas paredes.
Alessandra Mussolini, neta do ditador fascista Benito Mussolini, disse que decretos como este estavam levando a uma "Europa sem identidade".
Apenas um punhado de políticos defendeu a corte, incluindo membros do Partido Comunista e de grupos ateus.